Com o rosto ainda vermelho das lágrimas, Tânia sentou-se a mesa, Eduardo sem uma palavra acompanhou-a. A Chuva estava forte, relâmpagos e trovões pareciam dizer tudo que acontecia pelo mundo, tudo entre eles. Tânia sempre se perguntando o que estava errado, por que o casamento havia se tornado frio, azul. Ao perceber uma nova lágrima Eduardo a perguntou por que chorava. As palavras atingiram Tânia como um raio atinge uma árvore. Olhou-o diretamente nos olhos, tentando conter as palavras, o descontrole e mais lágrimas que acompanhariam.
-Estou bem.
-Não, não está, não parece bem.
Continuaram a jantar, sem mais palavras, a luz da casa parecia falhar, o barulho da chuva no telhado estava alto, realmente uma tempestade, e num forte relâmpago as luzes dos postes da rua apagaram-se, Tânia estremeceu por alguns segundos e alarmou-se.
-Provavelmente eles devem cortar a luz.
-Quem?
-Como quem? Você sabe, sempre que cortam a luz da rua, logo cortam as luzes das casas, por precaução.
-Não, não é assim, você deve estar assustada com a chuva, acalme-se, vem termine de comer.
-Não, vou tentar dormir.
Quando Tânia deu um passo em direção ao quarto, as luzes apagaram-se. Eduardo que ainda jantava ficou assustado.
-Merda, eu sabia que ia acontecer. Vou acender uma vela, espere um minuto.
Caminhou cega pelos cómodos da casa até o quarto, abriu a primeira gaveta da cómoda e retirou duas velas, acendeu-as com os fósforos que guardava junto, caminhou vendo o que as chamas iluminavam, viu a sombra de seu marido, como ele havia se tornado tão diferente, sempre se perguntava.
-Aqui.
-Obrigado, vou deitar também, não demoro.
Eduardo chegou pouco depois dela, deitou do lado esquerdo como já era de costume, virou para o lado dela, a janela aberta mostrava apenas a intensa escuridão daquela noite, o céu iluminava como fim de tarde cinzento a cada relâmpago que bradava forte, a luz entrava no quarto atenuando as formas desconexas dos dois corpos e parecia gritar no coração de Tânia, que por um momento sentiu ódio daquele homem ao seu lado.
As mãos de Eduardo acariciavam-na, ele a apalpava forte, intensamente, subindo pelo contorno de seu corpo.
-Não.
Tânia disse virando-se para o outro lado.
-Não? Como não?
-Para que tentar, só porque está escuro? O que é, o cansaço passou?
-Lá vem você de novo usando minhas palavras, nossa, estou cansado viu.
-Cansado? De que? Do trabalho? Cansado de que? Qual o motivo de você ter mudado tanto?
Eduardo sentiu o peso daquelas perguntas, intensas e fortes, não sabia ao certo o que sua esposa pretendia ouvir dele, respirou fundo e virou para o outro lado, olhava a janela, a chuva e o tempo, o tempo que passou e o desejo que parecia fugir-lhe da mente. Tânia também calou-se, sentia uma raiva constante pois sabia que ele não a tinha como antes, e por um momento pensou “Talvez eu também não o tenha como antes”, rezou para que esse pensamento não fosse verdade e que como mágica, tudo mudasse e voltasse ao normal.
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