sábado, 18 de setembro de 2010

Lyla


“Um dia serei tão bela quanto ela.” Determinada, fechou o livro de fotografias, jogou-o de lado, apagou o cigarro, aquilo lhe fazia mal, sentia o enjoo chegar a cada trago, usava apenas uma calcinha branca,olhou a sua volta e viu os papeis com suas escritas espalhados pelo chão, sentia-se como mais um papel amassado, inacabado, esperando por um ponto final, mais uma historia ainda sem fim. Levantou-se vagarosamente e caminhou até o banheiro, orgulhava-se de sua decoração, luzes em volta do espelho, sua face iluminada; Viu toda maquilagem em volta da pia, saía da realidade ao imaginar que tudo era de mármore. Os cabelos cacheados eram castanhos, seus olhos cansados, lembrou da foto de uma atriz, Letícia Spiller, como admirava-a, imaginou-se numa festa ao lado dela, admiradas pela beleza, mas não se desesperou, quando viu que era apenas um devaneio, levantou rápido e tirou a calcinha, a depilação por fazer, ligou o chuveiro na temperatura morna e novamente imaginou tudo de mármore.

Ao sair prendeu os cabelos, começou a se maquiar, uma forte base, com o auxílio de uma fita adesiva puxava a sobrancelha para desenhar melhor, começou com o contorno leve dos olhos, o rosa nas pálpebras, o brilho e as cores delicadamente ajeitados em seu rosto. Os lábios pintados com fervor, cor forte, o vermelho e o vinho. Boca sedutora.

Saiu do banheiro transformada, com um rosto lindo, precisava ouvir alguma música. Ligou o som alto, as coisas no chão do quarto não a incomodava, enquanto andava mexia o corpo como um lenço ao vento, seduzia uma miragem qualquer, pegou seu melhor vestido que comprara ontem, vestiu-o com delicadeza, suas unhas vermelhas a fizeram lembrar de seus antigos amantes, de seu antigo amor, a solidão não doía mais, era feliz por ter essas lembranças, na cómoda perto da cama escolheu qual cabelo usaria, vermelho ainda era sua cor preferida, longos e brilhosos cabelos vermelhos, com pequenos cachos na ponta. Uma sandalha fina de salto alto abraçava seus pequenos pés com amor. Pegou uma bolsa com seus documentos e decidiu que era o momento de sair, mas antes olhou-se no espelho pela última vez, era uma outra mulher. Desligou o som e apagou as luzes, fechou a porta e trancou-a. Mais uma vez ia buscar por sua fama, por seu sustento. Lyla sabia que Letícia a esperava do lado de fora do prédio, pegou o elevador e saiu, imaginando-se mais uma vez na fama, no calor de ser adorada, “Em breve vão me descobrir, me adorar.” e com esse pensamento saiu por mais uma noite de sua casa.

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