-Pedrão! Cuidado!
Pedro parou rápido, por pouco não foi atingido por um carro em alta velocidade, o álcool ainda fazia efeito em sua cabeça, jurou ser a ultima dose de bebida que desceria por sua garganta, as roupas limpas e os pés sujos, agradeceu seu amigo por avisa-lo do carro, foi até o outro lado da rua onde sua “cama” o esperava, um amontoado de papelão, morava na rua há pouco mais de dois anos.
Sua voz grossa, garganta sofrida pelos cigarros em excesso e pela pinga barata, mantinha o chapéu esperando moedas perto de sua perna, esmolas o sustentavam, a barba bem feita era raridade entre os moradores de rua dali, esse era o diferencial do popular Pedrão.
Todo seu dinheiro gastava com comida e produtos de beleza. Incomum.
Com as ultimas moedas recebidas foi até a casa de dona Ana, que ficava no fim da avenida, uma casinha simples de barro e papelão, deu a ela os trocados e tomou um belo banho. Sem pensar no futuro, somente lembrando do passado, voltou meio cambaleante para onde sempre ficava, sentou encostado na parede laranja de uma loja fechada e ficou olhando a avenida João Pedro, carros dos mas variados tipos, pessoas apressadas e com medo da violência, passou a mão em seus cabelos e com os olhos vermelhos viu o ultimo toque do sol na enorme torre da igreja, que mesmo distante, na visão de muitos mostrava sua hora.
18:00
Aos poucos seus amigos foram chegando, todos com apelidos de rua, poucos com seus nomes verdadeiros, quase esquecidos pelo tempo e pelas doses de cachaça. O que cantava desafinado, era o marquinhos, começou uma moda sertaneja das antigas, pelas risadas alheias percebia o desdém, continuava a cantar, o que tinha a perder? Marquinhos juntava papelão e as vezes roubava para sobreviver.
Pedrão bateu nas costas do amigo e comentou com seu português afinado “cante aquela meu amigo, aquela que me lembra Juliana”.
A musica agitada parecia romântica na voz desafinada dos outros companheiros, descompassados faziam uma desarmonia gostosa de ouvir, Pedrão fechou os olhos e lembrou da morena de sorriso grande, os cabelos pretos e sedosos, lembrou de quando a tocou pela ultima vez, perto da rua treze da cidade de Três Marias, foi lá, depois do sexo, que o marido traído bateu em sua esposa, bateu em Pedrão, com uma arma velha errou o tiro na mulher, e acertou em si. Juliana ficou traumatizada, nunca mais o quis ver, sumiu no mundo, se prostituindo por sobrevivência, Pedrão perdeu o rumo, foi morar na rua, andava por todo lado, até que achou seu lugar, perto do muro laranja da loja abandonada, perto de marquinhos o cantor, no amontoado de papelão que revenderia depois, ao lado de seu chapéu de esmolas.
Depois da meia noite era meio que proibido cantar, os outros que dormiam nas ruas ficavam nervoso com a cantoria e sempre arrumavam confusão, Pedrão levantou de fininho, nos passos lentos com seu pé inchado, pegou uma sacola preta, ao abri-la retirou seu creme de pele, passou generosamente, seu desodorante, passou generosamente, seu perfume, se banhou novamente. Dormiu pouco depois, e acordou, como um Sr. Que dormira ali por obrigação, seu cheiro era doce, sua pele macia, sua barba bem feita, enquanto vários perguntavam como ele conseguia, Pedrão dizia que era natural e prosseguia com sua sina de pedinte, sobrevivendo dos outros, para seus perfumes comprar.
Gostei muito vc me falou que postaria esta historia estou louco para ler as outras partes. Gosto muito de jeito que vc escreve, muitas frases suas tem uma sonoridade devido as rimas, que talvez vc não perceba. Isso sem contar com os detalhes que são perfeitos.
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