terça-feira, 25 de outubro de 2011

Suspense - Brincando com Vampiros




Brincando com vampiros.


E assim que Pedrinho viu a luz apagada acendeu logo a lanterna, a revista que lia era emprestada do amigo Beto, monstros e mais monstros e mulheres seminuas desamparadas gritando nas páginas meio amareladas, a noite clara ajudava a perceber as silhuetas, porém, não ajudava a tirar a atenção dos monstros ali desenhados, por mais excitado agora estava meio que tremendo, coisa de criança.
E foi nessas brincadeiras de quem faz chuva que os amigos cresceram com outros amigos, com novas aventuras e trocas de segredos, aos dezessete eram a sensação do colégio público por sempre aprontarem e nunca levarem culpa, Beto morava ao lado na casa sem tinta, Pedro na casa maior, tal que ouviu o chamado, era o Pedro,
-Meus pais vão viajar amanhã, bora fazer a festinha!
-Boa garoto! Amanhã espalhar geral na escola.
-Tranquilo, vou ligar para Aninha, sabe como é né.
-É Gol moleque.
Saíram do portão na urgência de diversão, ligaram o videogame e ficaram até a noite chegar, no computador estavam já cansados de tudo por isso nem mexiam, mantinham esse laço de amizade como sempre foi, como crianças, mudar para que, algo que está tão bom.
Saíam juntos e chegavam a aula mais cedo todos os dias para conversar sobre assuntos diversos, dessa vez a turma estava cheia, dos doze, cinco animaram ir dormir na casa do Pedro, a festa seria até no outro dia.
-Essa é a melhor sexta-feira viu, só de saber que segunda-feira seremos os mais populares do colégio!
-Pois é, as duas gatinhas que estão no papo!
-Bom demais!
Abrir a carteira com dezessete anos, fácil tirar uma nota de dez, mas Beto surpreendeu com uma nota de cinquenta.
-Caramba! Tá rico heim!
-Mãe me deu p comprar um CD, guardei!
-Boa, bora comprar bebida para deixar todo mundo louco, e comida claro, vai ser pizza?
-Bora, pode ser, alugar uns filmes também!
-Maneiro!


18h
-Alô? Pedro, estamos aqui fora!
-Beleza Ana, tô saindo!
Ana, Beatriz, Marcos, Diogo e Everton chegaram com sacolas de guloseimas, foram logo guardando, os meninos a jogar videogame e as meninas preparando algo gostoso. O clima de expectativa já estava no ar, Pedro queria Ana e Beto Beatriz, simples.
-Gente desliga esse videogame, vocês não sabem o que eu trouxe!
-Já vi tudo, revista de menininha cheia de fofoca!
-Cala a boca Marcos! Olha só!
Tirou uma papelada da mochila, e selecionou um papel específico, via-se a caligrafia torta.
-Tá certo que não imprimi, mas quando vi no site logo escrevi, vai ser sinistro, vamos aproveitar que já está de noite e brincar com isso.
-Que é isso?
-Uma chama vampiros sei lá o que, chama monstros nem lembro, só sei que é legal e sei que ninguém aqui tem medo!
-Nossa que bobagem, fala sério!
-Tá com medo já Pedro?
-Para, bobagem, tenho medo dessas coisas não, dá aqui, me deixa ler!

Apaguem as luzes, desliguem tudo elétrico, acendam uma vela e de preferencia mantenham as janelas fechadas, cada um senta onde quiser, bobagem desenhar círculo, o segredo é a concentração e dizer as palavras certas pensando no que deseja chamar, acender um incenso é bom já que a maioria das criaturas enxerga pouco e vai se guiar pelo seu olfato, e claro, não se esqueçam de manterem-se em lugares seguros e prepararem logo as oferendas.
-Nossa, não vou continuar lendo não! Bobagem.
-Bobagem? Eu escrevi só a introdução toda, o resto são instruções, pelo que li, é melhor apenas um fazer já que se não, outros monstros virão!
-Aff.
-Vamos gente, o que custa?
-Nada né.

Começaram a desligar tudo, a casa na escuridão completa e nos risos adolescentes, uma risadas vinham de um depois de outro, sempre contidos por Beatriz os meninos se comportaram, Ana que ficou sentada no canto da sala, quase não a enxergavam não fosse a vela ali perto, o que confirmaria se o monstro viria ou não, seria a vela apagando-se de forma misteriosa, “Obvio que o vento vai apagar a vela, ou mesmo a Ana para fazer medo vai assoprar”, “Cala a boca, melhor ficar olhando que resmungando!”.
Ana fez o feitiço estranho em língua diferente, repetiu isso umas 5 vezes sob a impaciência alheia, parecia que não acertava visto que a vela continuava do mesmo jeito, na sexta tentativa perceberam o acontecimento, a chama da vela não se apagou, mas mudou de cor, estava completamente azul, “fogo frio”, “irado” foi diminuindo gradativamente até a total escuridão ocupar a sala, o coração já acelerava no peito de todos, mas manter-se corajoso é o que garantiria popularidade com todos, nesse caso “Eu não tenho medo de nada!”.
Acenderam as luzes e Ana estava cheia de medo.
-Gente, tô com fome e medo!
-mulheres, dizem não ter medo, mas quando fazem algo errado, olha só como ficam!
-Cala a boca Marcos.
Os meninos voltaram a jogar videogame, as meninas serviam torradas com patê, refrigerante, salgados, bolo, biscoitos e doces.
-Gente, o que vamos assistir, filme de terror ou comédia?
-Terror! Já começou com o clima sinistro tem que terminar igual!
-beleza!

Colocou o filme enquanto todos se ajeitavam no sofá, as janelas tremiam com a ventania, Pedro foi ajeitar para abafar o som e viu a grande lua entre grandes nuvens, arrepiou-se porém nada comentou.
Enquanto alguns se apertavam no sofá Pedro chamou Ana para sentar ao seu lado, a sala era grande com paredes amarelas, o teto de PVC, um material frágil, mas que continha o que viesse a cair das telhas coloniais, ali também ficavam muitos ninhos de passarinhos, o que garantia alguns barulhos incômodos de vez em quando. As mãos de Pedro pairaram sobre a de Ana de forma tímida, aceito o toque ficaram ali vendo o filme, “filme bobo”, “Bobo nada, você está com medo e quer que tiremos né?”, “Não!”.
A ventania forte fazia barulhos até assustadores, ficavam brincando um com o outro, jogando pipoca para o ar e sorrindo, no frio que fazia Pedro foi pegar alguns cobertores para distribuir entre eles, dividiu o mesmo com Ana, deitados no chão se aqueciam com o tecido, Pedro muito nervoso para fazer ou falar qualquer coisa e Ana com medo de tudo, até de Pedro.
Nessa brincadeira de adolescente não perceberam que alguma coisa se movia no quintal, o cachorro tentou avisar, latia incontrolavelmente até que parou de súbito, a criatura andava rápido e parecia escalar paredes, subiu até o telhado da casa de Pedro e sentiu o cheiro de Ana, era o que o guiava além de um instinto sobrenatural. Fazia alguns barulhos com o enorme nariz e com a boca que nunca fechava, os enormes dedos foram empurrando as telhas uma por uma, dentro da sala os meninos acharam que era o vento ou os passarinhos se mexendo, assim não se preocuparam, já a criatura que movia cuidadosamente telha por telha, não enxergava muito bem, seguia seu tato e olfato, ouvia o barulho que fazia e tentava controlar-se, o cachorro havia parado de latir pois não reconhecia nada mais, já que a misteriosa forma do ser que estava no telha havia se confundido na escuridão da noite, era um bicho místico, leve, por mais grandalhão que parecesse, tinha uma pele seca e extremamente feia, os ossos já eram leves de porosos, apoiou-se com cuidado no teto falso, haviam alguns pedaços de madeira que cruzavam as paredes e ficou por ali até sentir-se seguro, não tinha consciência do que estava fazendo, apenas era movido pelos sons do ambiente e pelo irresistível cheiro de Ana.

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