As crianças atentas aos barulhos ficaram com um pouco de
medo pelas telhas se mexendo, mas como não viram mais nada acalmaram-se com a
possibilidade de o vento fazer seu papel, o filme em seu ápice fez com que
todos ficassem sem piscar, com corações acelerados e ouvidos atentos a TV. A
criatura que esperava passar desapercebida viu que havia luz em baixo de onde
estava, como não gostava, o melhor era abrir espaço assim como fizera com as
telhas, assim, calmamente, com suas enormes unhas e dedos meio esverdeados, foi
empurrando os feixes de plástico, com o insucesso, fechou os olhos e respirou
fundo soltando aquele grunhido típico de um pulmão seco, novamente com as unhas
desenhou um quadrado que de forma mágica desprendeu-se dos demais como se
derretesse, e ficou em sua unha dependurado, retirou com a outra mão o pedaço
grudado, e continuou com calma, já conseguia ver o que estava abaixo, não via
ninguém, mas sabia que Ana estava perto.
-Ana está tremendo de medo, nossa, que idiota vou contar
para todos do colégio!
-Ai Marcos, você é chato demais, isso sim!
-Ai Marcos, você é chato demais, isso sim!
Jogou uma almofada em direção ao amigo que abaixou-se, a
almofada caiu atrás do sofá e ali ficou no chão. O Sinistro ser que estava ali
a espreita viu apenas o objeto que caiu de forma embaçada em baixo do buraco
que fizera, assim cortou apenas mais um pedação pois não queria ficar exposto a
luz que o incomodava profundamente, mas esse ultimo pedaço que cortava com as
unhas caiu em cima da almofada, não fez barulho, apenas caiu. O bicho resolveu
ficar agora esperando o próximo instinto, sabia que não devia chamar muita
atenção, assim era só esperar.
-Nossa que filme ótimo!
-Ah não acredito que gostou, prefiro aquele outro que tenho na minha casa!
-Ei, Ana, parece que sua macumba não funcionou não hein!
-Ah não acredito que gostou, prefiro aquele outro que tenho na minha casa!
-Ei, Ana, parece que sua macumba não funcionou não hein!
Todos riram e Ana encolheu envergonhada, Marcos ia em
direção ao banheiro quando viu a almofada caída no chão, viu também um pedaço
grosso de plástico, fez o rosto de incompreensão.
-Pedro, o que é isso?
Disse apontando o objeto em direção aos demais,
-Não sei, parece plástico, me deixa ver!
-Isso é PVC, igual da minha casa!
-Isso é PVC, igual da minha casa!
Ana que estava um pouco atrás começou a afastar com olhar
desesperado, via um buraco no teto, ao mesmo tempo em que tinha medo, não
entendi o que era aquilo.
-Pessoal, acho que esse pedaço veio dali!
Olharam todos em direção ao pequeno buraco negro, nada
enxergavam, franzindo a testa Marcos ajeitou o olhar, forçou a visão, nada de
anormal.
-Nossa, minha mãe me mata! Vai achar que eu quem fiz isso.
-Que estranho, ainda não entendo.
-Que estranho, ainda não entendo.
A criatura estava com olhos fechados, por mais que não
enxergasse sentiu o perigo de ser visto, ao sentir-se mais seguro abriu os
olhos novamente, olhos amarelados que brilhavam de forma sutil num escuro
qualquer, o cheiro de Ana era ainda mais forte.
Os amigos estavam na cozinha limpando um pouco da bagunça
feita, o mistério do buraco no teto ficaria para depois, Pedro chamou Ana para
a sala novamente, queria conversar a sós.
Assim o bichano respirava o doce cheiro, estava tudo bem,
foi o que sentiu, Ana estava sentada com Pedro, os dois de mãos dadas, foi
assim que sentiu-se bem usou de sua pouca mágica e desceu pelo estreito buraco,
como uma fumaça escorregou pelo espaço ali que era pouco, materializou-se de
cinza a novamente negro atrás dos dois que nesse momento, se beijavam, fitou
Ana e contemplou admirado tal costume, sob a luz da sala, que não mais o
incomodava pois sentia-se seguro o suficiente para aparecer, percebia-se suas
rugas, berrugas, nariz feio quase esverdeado, olhos amarelos, mãos de dedos
grandes e um pouco peludos, abriu a boca de forma que seus afiados dentes
apareciam, ele estava sorrindo. O hálito forte sutilmente entrou pelo nariz dos
dois beijantes.
Ana sentiu o estomago embrulhar, abriu os olhos e viu Pedro
também de olhos abertos, afastaram-se percebendo pela visão periférica uma
sombra por detrás, temiam olhar, mas Ana era teimosa e medrosa, olhou e mal viu
a criatura, gritou estridente, levantou e tropeçou em algo no chão, caiu olhando
e gritando sob os olhos amarelos, Pedro paralisado não fez nada, arregalou-se e
ficou ali boquiaberto, o bichano amedrontou-se com o barulho alto, em fumaça
voltou para o buraco e ficou ali fitando tudo que acontecia em baixo de si.
Agora não havia medo, não da parte do vampiro, mas Ana não
conseguia parar de chorar, e olhando para o negro buraco do teto, percebia o
olhar amarelo em direção a ela.
-Ei, eu tenho uma arma, vamos?
-Você tem coragem?
-Claro, esse bixo não vai machucar minha namorada!
-Você tem coragem?
-Claro, esse bixo não vai machucar minha namorada!
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